Me lembro em várias ocasiões em que um grande líder (e mentor para mim) falava em algumas das suas palestras: “ A criança que segura um instrumento musical, pratica esportes ou se envolve em projetos culturais, nunca terá tempo de segurar uma arma ou se envolver no crime”.
Fazendo uma reflexão e me vendo 28 anos atras, consigo claramente reconhecer o quanto isso foi poderoso para a construção do que sou hoje.
Sou frequentemente reconhecido como empresário ou CEO da BNP Soluções, uma empresa reconhecida por suas soluções em tecnologia. Enquanto alguns poucos sabem que venho de uma família de músicos e que sou apaixonado por música e cultura, eu prefiro me definir de uma maneira diferente: como um músico que se apaixonou pela tecnologia.
A música sempre fez parte da minha vida, e muitas vezes me pergunto: se tivesse havido mais incentivo quando era jovem, teria seguido o caminho da tecnologia da mesma forma? A reflexão sobre essa questão me levou a escrever este artigo. Quero explorar como a tecnologia pode ser usada para impulsionar e fortalecer a cultura no Brasil.
1. Inteligência Artificial para Democratizar o Acesso a Incentivos Culturais
Uma das grandes barreiras para muitos artistas no Brasil é o acesso a incentivos financeiros para seus projetos. Só a lei Paulo Gustavo, por exemplo, teve um repasse de quase 4 bilhões de reais. No entanto, muitos desses recursos não são captados porque o artista comum encontra dificuldades para se inscrever em editais e programas de incentivo.
Imagine se, ao invés de ler, decifrar e se inscrever em um edital, o artista pudesse simplesmente enviar um vídeo de inscrição? Com a ajuda da inteligência artificial, essa tecnologia poderia transcrever o vídeo, coletar as informações necessárias e montar um projeto de forma estruturada. Isso democratizaria o acesso a esses recursos, permitindo que todos, independente de habilidade técnica, tivessem a oportunidade de se beneficiar dos recursos de fomento a cultura.
2. Plataformas de Ensino e Aprendizado
A tecnologia pode democratizar o acesso à educação cultural. Plataformas online podem oferecer cursos de música, dança, teatro e artes visuais. Ao eliminar barreiras geográficas, pessoas de todo o Brasil podem aprender e se conectar com mestres da cultura brasileira.
3. Aplicativo de Check-in para Eventos Culturais
Um dos maiores desafios enfrentados por artistas independentes e locais é atrair um público significativo para seus eventos. Para incentivar a participação da comunidade nesses eventos, podemos imaginar a criação de um aplicativo que permita aos usuários fazer check-in em eventos culturais. A cada check-in, o usuário acumularia pontos que poderiam ser trocados por incentivos do governo, como descontos em ingressos para museus, teatros e shows.
Além disso, essa pontuação poderia ter um impacto direto na educação e carreira dos participantes. Por exemplo, os pontos acumulados poderiam ser considerados como critério adicional para admissão em universidades, beneficiando estudantes que se envolvem ativamente em atividades culturais. Da mesma forma, ao buscar vagas no setor público, a pontuação cultural de um candidato poderia ser levada em consideração, reconhecendo o valor de indivíduos culturalmente ricos e sua capacidade de produzir mais e contribuir de forma significativa para a sociedade.
O sistema não apenas incentivaria a participação em eventos culturais locais, mas também criaria uma base de dados valiosa para o governo entender melhor as preferências culturais da população e direcionar melhor seus investimentos. Através deste aplicativo, valorizamos e reconhecemos a importância da cultura na formação integral dos cidadãos e seu potencial para impulsionar o desenvolvimento da nação.
4. Business Intelligence e Data Lake para Equidade Cultural
A era digital trouxe uma oportunidade inédita de coleta e análise de dados em massa. No setor cultural, isso pode ser uma ferramenta poderosa para garantir equidade e preservação de diversas manifestações artísticas. Imaginemos a criação de um vasto “Data Lake” cultural, uma plataforma que agregue informações de artistas, eventos, públicos e tendências culturais de todo o Brasil.
Esta plataforma poderia coletar dados de diversas fontes, desde aplicativos de check-in, redes sociais, plataformas de streaming até bilheteiras de eventos. Através de ferramentas avançadas de Business Intelligence, seria possível analisar esses dados para identificar quais manifestações culturais estão prosperando e quais estão em risco de desaparecimento.
Com essas informações em mãos, o governo e instituições culturais poderiam direcionar recursos e esforços de forma mais eficaz. Por exemplo, se uma determinada tradição ou manifestação artística estiver em declínio, poderiam ser criados programas específicos de incentivo e preservação. Da mesma forma, a análise do público permitiria entender melhor suas preferências e necessidades, permitindo a criação de eventos e iniciativas mais alinhadas com o interesse da comunidade.
Além disso, ao promover a equidade cultural através deste Data Lake, garantimos que nenhuma cultura ou tradição seja deixada para trás, reconhecendo e valorizando a rica diversidade cultural do Brasil e assegurando que ela continue florescendo para as gerações futuras.
Exemplos Internacionais de Uso da Tecnologia na Cultura
O Canadá, por exemplo, criou a ferramenta “Indigenous Peoples Atlas of Canada”. Este é um exemplo poderoso de como a tecnologia pode ser usada para preservar e promover a cultura. Esse atlas digital oferece uma visão profunda sobre as culturas e histórias indígenas do país, permitindo que pessoas de todo o mundo tenham acesso a essas riquezas culturais.
A Importância Inegável da Cultura
A cultura é o espelho da alma de uma nação, refletindo não apenas sua história, mas também seus valores, esperanças e aspirações.
Em nossa era digital, a tecnologia emerge como uma ponte poderosa entre tradição e inovação, oferecendo novos caminhos para explorar, preservar e disseminar a cultura. Como alguém que tem investido energia e paixão entre tecnologia e cultura, posso atestar as inúmeras possibilidades que essa combinação oferece. No entanto, é fundamental reconhecer que, apesar de estarmos avançando, o caminho ainda é longo e repleto de desafios.
Minha esperança é que, no futuro, jovens entusiastas da cultura, como os futuros Robertos, não sintam a necessidade de se desviar para outras áreas de atuação simplesmente por falta de apoio ou recursos em sua paixão primária.
Que a cultura e a tecnologia se fortaleçam nos próximos anos, para que a próxima geração desfrute de um Brasil onde a tradição é celebrada, a inovação é bem-vinda, e a paixão pela arte e tecnologia flui livremente em cada esquina. 😉
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