Tecnologia x Recreação: Barreiras que a tecnologia impôs na Recreação Infantil

Como vim de uma transição de carreira na área de eventos, bar e recreação (na qual não larguei totalmente), nada mais justo do que falar sobre o impacto que a tecnologia trouxe para uma dessas áreas em que ainda atuo, a recreação infantil.

No século XXI, a tecnologia emergiu como uma força poderosa, moldando cada aspecto da nossa sociedade, desde a forma como nos comunicamos até como nos divertimos. No entanto, ao mesmo tempo em que oferece inúmeras vantagens, a tecnologia também impôs algumas barreiras significativas na recreação infantil, alterando drasticamente a maneira como as crianças brincam e se desenvolvem.

Uma das principais barreiras que a tecnologia impôs é a diminuição do tempo dedicado a atividades ao ar livre e interações sociais face a face. Antigamente, as crianças costumavam passar horas explorando parques, brincando com amigos na rua e criando suas próprias aventuras. Eu vivenciei isso pessoalmente, sendo uma dessas crianças que empinavam pipa, jogavam bola, bolinha de gude, pião e brincavam com tazos e figurinhas. No entanto, com a proliferação de dispositivos eletrônicos, muitas crianças agora preferem jogos online, redes sociais e vídeos em vez de brincadeiras ao ar livre.

Além disso, a tecnologia trouxe consigo uma preocupação crescente com a falta de atividade física entre as crianças. Jogos de vídeo game sedentários substituíram as atividades físicas que eram uma parte integral da infância.

Um estudo realizado pela TIC Kids Online Brasil, em outubro deste ano, revelou que a proporção de crianças com menos de seis anos de idade que tiveram o primeiro acesso à internet dobrou, passando de 11% para 24% desde 2015 (fonte: https://cetic.br/pesquisa/kids-online/). O resultado é uma geração que, muitas vezes, passa mais tempo sentada em frente a uma tela do que se movimentando, o que pode ter sérias consequências para a saúde infantil.

Outra barreira imposta pela tecnologia na recreação infantil está relacionada à criatividade e imaginação. Brinquedos tradicionais e jogos que estimulavam a criatividade foram, em grande parte, substituídos por dispositivos eletrônicos que oferecem uma experiência mais passiva. As crianças muitas vezes consomem conteúdo digital em vez de criar suas próprias narrativas e histórias, o que pode limitar o desenvolvimento de habilidades cognitivas essenciais.

Um exemplo recorrente que tenho observado recentemente são as festas infantis em que atuo como recreadora. Muitas crianças, com apenas 3 ou 4 anos, têm dispositivos eletrônicos em mãos, como celulares, que seus pais disponibilizam para mantê-las distraídas e evitar ter que lidar com elas. Isso é expressivo e preocupante, pois as crianças deixam de se desenvolver e descobrir mundos além do virtual. Embora a tecnologia seja algo maravilhoso, deveria ser introduzida de forma gradual, não de maneira precoce como tem ocorrido cada vez mais. Isso acaba prejudicando esse trabalho na recreação infantil, cujo objetivo é incentivar a criança a brincar, ter interações com outras crianças e explorar um mundo independente da tecnologia.

Além disso, a exposição precoce a dispositivos eletrônicos pode contribuir para uma dependência digital, tornando-se uma barreira para o desenvolvimento saudável das crianças. O acesso constante a telas pode interferir no sono, na atenção e no desenvolvimento emocional, impactando negativamente a qualidade de vida das crianças.

Embora a tecnologia ofereça benefícios significativos, é essencial estar ciente das barreiras que ela tem gerado para a recreação infantil. Encontrar um equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e atividades tradicionais é fundamental para garantir que as crianças possam experimentar uma infância rica em diversão, aprendizado e desenvolvimento integral.

Referências:

CETIC.BR. TIC Kids Online Brasil. Disponível em: http://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/1092295. Acesso em: 06 de dez. 2023.

Sobre Natalia Zanella 1 Artigo
Graduanda em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Dev Jr na BNP e fascinada por tecnologia. Aspirante a gamer, amante de gatos e da banda Queen.

2 Comentário

  1. Uma matéria muito boa, para conscientizar os pais a influenciarem seus filhos a fazerem atividades físicas e brincadeiras. Pensando na saúde e na evolução deles.
    Parabéns, muito bom!!

  2. O fator ‘segurança’ também desencorajou os pais a deixarem as crianças “soltas” nas ruas. O cenário que tínhamos, por exemplo, nas décadas de 1970 e 1980, com dezenas de criança nas ruas, parques e terrenos, brincado de taco, futebol, pega-pega, amarelinha, casinha e tantas outras brincadeiras, hoje é considerado temerário. Tanto pelo perigo advindo de crimes como também de acidentes de carro. É um fator que colabora negativamente para esse cenário.

    Some-se a isso o comportamento e o desenvolvimento das crianças que frequentam as ruas… sem uma programação adequada em fartura na tv aberta, as influências vêm dos mais velhos e elas começam a fazer o que eles fazem… e nem é preciso se aprofundar mais pra saber do que estou falando. Mas muitos pais não querem expor seus filhos a esse tipo de ambiente.

    Cabe ao recreador propiciar momentos únicos, lúdicos e saudáveis que imprimam grandes e influentes lembranças na mente dos pequenos.

    O”

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