Um dia na vida de um home-Officer
É com certa frequência que me deparo com postagens sobre trabalho home-office, e um debate como pano de fundo, agravado pela chegada e partida da pandemia. Rola um romantismo, por vezes um ativismo, o que acho muito bom, afinal tínhamos que tirar alguma coisa boa desta fase que todos nós vivemos.
Essa modalidade de trabalho veio para ficar! Quer alguns queiram ou não. Ninguém merece acordar as 5hs da manhã, ou mais cedo até, e só começar a produzir as 8hs, talvez até mais tarde, pois nos grandes centros leva se mais de hora com deslocamentos, sem falar na loucura que é usar o transporte público nessas nossas capitais, e cidades. Quem defende cegamente o retorno irrestrito do trabalho presencial, na maioria das vezes que leio e pesquiso sobre o assunto, não sabe o que é depender do transporte público, ou passar parte do tempo em congestionamentos, seja qual for o tipo de transporte utilizado.
Eu me identifico muito com o trabalho híbrido, um pouco cá, outro tanto lá porque pessoas precisam de pessoas para viver, evoluir e se relacionar. No trabalho não é diferente. Esse é um dos motivos pelos quais viajo e volto para a empresa durante uma semana, ou mais dias, periodicamente, dado que moro em outro estado/cidade, uma questão de qualidade de vida, mas essa é uma história para outra ocasião. Vale dizer também que atuo na área de Tecnologia da Informação, já fui desenvolvedor, engenheiro de sistemas, e há algum tempo atuo como Gestor de Projetos na área.
Modismos à parte tenho que dizer que trabalho em home-office desde 2008. Isso mesmo sou um veterano nesta modalidade. Desde quando residia na capital de São Paulo, minha cidade natal, passando por 5 anos em Brasília e agora desde 2013 em Joinville, atuo trabalhando hibridamente. Foi uma opção depois de 26 anos de trabalho presencial numa empresa de médio porte, onde passei por diversas áreas e funções. Aprendi muito, e um dos aprendizados me levou às escolhas que vivo atualmente.
Assim, depois de ler tanto sobre esse assunto, essa filosofia de trabalho, separar as bobagens das verdades, decidi escrever a respeito, e para isto nada melhor do que descrever o dia de um home-officer. E olha, não tem nada de romântico, de aventura, e de esnobe nas rotinas de quem vive esta vida. A verdade é que tem que trabalhar, entregar, tem que ser disciplinado.
Então não há nada de bom em ser home-officer? Negativo, tem muita coisa boa. Em primeiro lugar você melhora a sua comunicação, pois ela tem que fluir independente da distância, você tem que se tornar mais responsável, não vai ter ninguém passando na sua sala, na sua mesa pra lembrar ou discutir assuntos, reuniões ou a data final de entrega de um projeto, e isso nos leva a outro item importante, você tem que ser organizado, proativo. Não rola trabalhar sem rumo, sem ferramentas, sem padrão. Já do lado pessoal, você ganha tempo pra viver melhor, mais próximo da família, dos filhos, participa mais, e sente que o tempo está a seu favor na maioria das vezes. Você se sente mais dono do seu tempo.
Pra não ficar aqui só dedilhando filosofias de boteco vou mostrar um dia dos meus dias de trabalho. Atenção, vai parecer que trabalho com o cronometro em frente ao computador, mas não é isso, o dia varia bastante, os horários também, é apenas uma referência.
5hs – Despertar – Fazer um pouco de Yoga pra acordar o corpo
5:30hs – Preparar o café da manhã pra família – minha filha de 10 anos precisa estar na escola as 7hs.
6:30hs – Tomar café com a Sophy – Bater aquele papinho diário de pai e filha.
6:55hs – Levar Sophy pra Escola – Nesse meio tempo já deu pra ler uns 4 e-mails e responder. (Dá até pra começar a escrever este artigo).
7:10hs – Início das atividades – Ver a agenda, reuniões do dia, adiantar comentários sobre os projetos no asana e no discord, enfim é mão na massa!
9hs – Primeira reunião do dia, mais tocar os projetos que estão na pauta do dia.
10hs – Hora daquela paradinha pra tomar um café e esticar as pernas
10:15hs – Sequenciar com mais uma call rápida com a equipe, e continuar trabalhando na gestão das entregas previstas. Isto envolve manter se informado e acompanhando os trabalhos, dedicar-se a equipe ajudando em definições e solução de problemas de gestão em geral.
11:45hs – Hora de pensar no almoço. Por aqui usamos muito as comidinhas Fit, rápidas e menos calóricas, mas tem dia que eu e minha esposa-sócia nos revezamos na cozinha pra fazer algo diferente e deixar o jantar engatilhado.
12:30hs – Almoço – hora de dar uma pausa.
14hs – Retorno às atividades. Normalmente já rola uma call de alinhamento sobre um dos projetos que não foram abordados no período da manhã, ou é mergulhar em alguma análise de problemas pra tentar ajudar a equipe nas entregas.
15hs – Call com a Diretoria – Assunto rápido: precisamos decidir quais serão nossos próximos objetivos de mercado. Olhar pra fora e ver o que podemos evoluir e levar dessa evolução para os nossos clientes, crescer.
16hs – Surgiu um problema com o cliente X na implantação do nosso principal sistema. Corre faz uma call, alinha com o time o que está acontecendo e o que deve ser feito pra solução imediata do problema. Chama o P.O. do cliente e o nosso P.O. para tratarmos o assunto com cuidado e estimar o menor prazo possível para a entrega da solução. O que às vezes deve acontecer logo mais à noite.
17hs – Verificar a agenda do dia seguinte e reformular se for preciso. Finalizar o que for possível e providenciar alguns encaminhamentos com a equipe.
17:45hs – Buscar a Sophy na Escola. Eu e a esposa também nos revezamos nisto, mas se eu não estou viajando, na maioria das vezes eu faço esse Uber.
18hs – Treino – Com 5.8 de idade e 4.0 de trabalho nas áreas de Administração e TI, não dá pra ficar parado, tem que colocar o corpinho em dia. Não é fácil passar em média 10hs sentado, dia a dia. Faço isso 3x na semana, nos dias que não há treino, seguimos trabalhando até as 19hs.
19:30hs – Tem que rolar aquela jantinha. Sophy está com fome.
20:30hs – Dar uma arrumada em tudo.
21hs – Hora de voltar pra mesa e continuar com 2 cursos de atualização que estou fazendo. Um curso total de desenvolvimento de sistemas, e outro de DEVOPS. Não dá pra ficar sem se atualizar, é preciso acompanhar a galera. Não sou de modismos, mas o conceito de life long learnig me dá sentido – Aprender 4x – a conhecer, a fazer, a conviver e a Ser.
Estou me preparando para algumas recertificações, mas isso vai rolar nos próximos meses.
23hs – Mais ou menos a essa hora dou aquela conferida no LKD só pra ver o que rolou, e cama, afinal ninguém é de ferro, e amanhã tem mais…
Quando estou na empresa em São Paulo, mais precisamente em São Bernardo do Campo não é muito diferente a rotina de acordar e descansar, obviamente procuro ficar o mais próximo possível do trabalho para poder ir caminhando, isso faz bem para o corpo e para os pensamentos. Você se conecta com você mesmo. No trabalho presencial rola o que há de melhor nele, a conexão com a galera.
Bom! Espero que esse artigo ajude aqueles que acham que home-office é sinônimo de trabalho sem compromisso, ou apenas um modismo, a entender que é uma forma de trabalho como outra qualquer, quando possível dentro da natureza das atividades. Espero que mostre aos que pensam em home-office como um portal da liberdade, que há nisso mais responsabilidade e dedicação do que se possa imaginar.
Bom trabalho!
Mas que horas o senhor cuida da nossa seleção? KKKK! Boa Dorival. Mais um excelente artigo, pra variar!