
Se nos dias anteriores do Agile Trends eu estava mergulhado em frameworks, fatiamento de histórias e dashboards de métricas, nesse momento do evento eu fui levado pra outro lugar.
Sabe quando você entra numa sala e parece que alguém desligou a luz do seu dia a dia e acendeu um holofote apontando pro futuro? Foi mais ou menos assim que me senti assistindo os keynotes e painéis que discutiam inovação, inteligência artificial e o que vem por aí nas relações de trabalho.
O contraste entre os formatos também chamou atenção: os keynotes nos provocavam com perguntas quase filosóficas sobre a nova era da produtividade, enquanto os painéis executivos traziam os pés de volta pro chão, mostrando o que algumas empresas já estão fazendo agora pra transformar discurso em prática.
Nessa transição entre o que pode vir a ser e o que já está acontecendo, comecei a refletir sobre um futuro onde o trabalho se torna opcional. Não no sentido de não ter o que fazer, mas de poder escolher o que vale nosso tempo e energia – com o apoio de tecnologias inteligentes que funcionam como copilotos (sim, tipo o Copilot da Microsoft). Um futuro onde colaboração entre pessoas e máquinas não parece ficção científica, mas uma evolução natural do trabalho.
Neste post, quero compartilhar os aprendizados que mais me marcaram nesses momentos do evento – desde as provocações sobre renda básica e explosão da IA, até experiências concretas com jornadas de quatro dias e agentes digitais.
IA e o Futuro da Sociedade
Logo no primeiro keynote, fomos recebidos com um soco no estômago filosófico. Roberto Pena não economizou nas provocações: o que é real?, quem escreve o código da nossa sociedade?, estamos preparados para a explosão da inteligência artificial?
A palestra foi uma verdadeira viagem pelos impactos sociais da IA. Mas não aquela IA teórica e distante, e sim a que já está aqui, agora. A que já está no seu celular, no seu editor de texto, no seu relatório de performance, no seu feed e (spoiler alert) inclusive neste post que você está lendo agora, que está sendo escrito com a ajuda de um modelo de linguagem treinado com bilhões de dados.
Ou seja, não dá mais pra fingir que IA é um assunto “do futuro”. Estamos vivendo esse momento. Ignorar isso hoje é o equivalente a um executivo nos anos 90 dizendo que “esse negócio de internet é modinha”.
O keynote de Pena também foi certeiro em nos lembrar que junto da tecnologia, estamos atravessando uma transformação cultural e geracional. O trabalho, tal como conhecemos, está sendo questionado. E talvez isso seja bom. Talvez estejamos mesmo à beira de uma nova revolução de produtividade – e não apenas do tipo que te faz entregar mais tarefas por sprint, mas que redefine o que vale a pena fazer.
Foi aqui que minha visão pessoal se confirma com a palestra: acredito num futuro em que o trabalho seja mais opcional, mais humano, mais focado em resolver problemas grandes – e em colaboração com máquinas superpotentes. Um modelo onde a IA não substitui o humano, mas potencializa. Onde a máquina deixa de ser ferramenta e passa a ser copiloto. Onde você continua no comando, mas com um copiloto incansável ao lado.
E não se trata de ficção científica. Trata-se de aprender a trabalhar junto. É sobre como você estrutura sua rotina, sua organização, seu time – sabendo que a IA estará ali. Sempre. E quanto antes a gente aceitar essa realidade, mais preparados estaremos para criar, inovar e até errar… mas errar com mais velocidade e aprendizado.
Veja a apresentação na íntegra
Guia de Inovação: Um Código de Sobrevivência para 2030
Se a palestra do Pena nos colocou para refletir sobre o impacto da IA na sociedade, o keynote do Marcos Gurgel veio como uma injeção de realidade no braço: inovação não é sobre ter ideias legais em brainstorm com post-it colorido. Inovação de verdade é suada, demorada, custosa – e absolutamente necessária.
Gurgel abriu a apresentação com uma afirmação que ainda ecoa na minha cabeça: “Essa palestra não é para românticos da inovação moderna.” A mensagem era clara: ou você aprende a inovar de forma consistente, com foco e estratégia, ou vai ser engolido por quem já entendeu isso.
Ele trouxe dados que desromantizam a inovação: o tempo, o investimento e os riscos por trás de projetos como Ozempic, iPhone, Facebook e até o próprio ChatGPT. A moral da história? Não existe “disruptivo de fim de semana”. O que existe é trabalho duro, cultura forte e capacidade de aprendizado contínuo.
Outro ponto marcante foi a crítica ao “soluço de inovação” – aquela euforia que aparece a cada nova moda tecnológica, mas que desaparece na semana seguinte, sem deixar legado. Gurgel defendeu que inovar exige perenidade. E para isso, é preciso ir além da ideia brilhante: é preciso saber executar, medir e aprender.
E aqui entra mais um ponto de conexão com minha visão pessoal: para que a tecnologia realmente seja nossa aliada, ela precisa estar integrada à cultura. Não adianta colocar IA em tudo se o time não sabe para que serve. Inovação não acontece por decreto, ela nasce de um ambiente onde testar, errar e ajustar fazem parte do dia a dia.
A provocação final de Gurgel ficou como mantra: “Talvez a melhor estratégia de inovação para sua empresa não seja criar uma área de inovação, mas fazer com que 80% das pessoas estejam engajadas no processo de inovar.”
Essa é uma ideia que me encanta: uma cultura onde inovar não é um setor, mas um comportamento coletivo – e onde a IA entra como catalisadora, não como protagonista.
Confira a apresentação na íntegra
Inovação Ágil: Ampliando a Produtividade com a Semana de 4 Dias e IA
Sabe aquele momento em que você pensa: “Ok, entendi o futuro… mas como eu aplico isso na segunda-feira de manhã?” Foi exatamente essa a sensação que tive ouvindo a palestra do Marcos Goes.

Depois de tanto ouvir sobre IA transformando o mundo e a importância de inovar com consistência, a apresentação da Haze Shift veio como um mapa prático de como essas ideias ganham vida na rotina real de uma organização. E com um bônus provocativo: eles estão fazendo tudo isso… com uma jornada de quatro dias úteis por semana.
O trabalho se expande de modo a preencher o tempo disponível para sua realização.
C. Northcote Parkinson, um historiador e autor britânico, em 1955.
“Parkinson’s Law” publicado na The Economist, Parkinson
Isso mesmo. Redução de jornada com aumento de produtividade.
Como? Com agentes de IA internos. Bots para análise de requisitos, pré-vendas, apresentações de resultados, diagnósticos de sentimento em conversas. Enquanto o resto do mundo ainda está discutindo se IA vai roubar emprego, a Haze Shift já colocou IA para fazer o trabalho repetitivo, o exaustivo, famoso toil. E liberou as pessoas para pensar, colaborar, criar. Simples assim (ou não tão simples, mas inspirador).

Marcos foi bem direto: produtividade não é sobre fazer mais em menos tempo. É sobre fazer certo. É sobre usar bem o tempo que temos. E quando você combina pessoas motivadas, estrutura organizacional flexível e tecnologias inteligentes que realmente ajudam, os resultados aparecem.
Pelo que entendi, a Haze experimentou na criação de alguns agentes de IA para melhorar trabalhos de rotina. A Haze criou os seguintes agentes
- Silas de Salles – Sales Virtual Assistant
- Lia Schwaber – Organizational Agility Virtual Assistant
- Vera Souza – Platform Virtual Assistant
- Theo Brown – Virtual Assistant for Design and Innovation
- Zoey Foster – Virtual Facilitation Assistant


Cada um destes agentes reduziram drasticamente o tempo de trabalho dos processos comuns.
Para além desse tempo “extra” a Haze também criou um piloto onde os colaboradores puderam escolher entre segunda-feira ou sexta-feira para ser o dia off. Dessa maneira, a Haze conseguiu manter seus clientes cobertos e ainda garantir o dia extra de repouso para toda equipe.
No piloto da jornada de 4 dias, a empresa viu:
- +66% de capacidade de cumprir prazos
- +82% de aumento em criatividade e colaboração
- +5% de receita
- +20% de margem de contribuição
E aqui vem minha provocação: quantas empresas você conhece que falam em inovação, mas ainda estão presas num modelo de trabalho de 40 horas, onde o e-mail é o centro da comunicação e o Excel é o oráculo?
A Haze mostrou que é possível mudar o jogo. Mas não com frases de efeito, e sim com estrutura, cultura e tecnologia. A IA, nesse contexto, deixa de ser “ameaça” e passa a ser recurso estratégico. Uma aliada que libera tempo, evita burnout e potencializa o trabalho humano.
A ideia da colaboração com máquinas, que começou como a visão no keynote que eu trouxe anteriormente, aqui ganha forma. É possível, é concreto, e já está acontecendo.
Você pode ver a apresentação na íntegra
Painéis Executivos – Agentes Digitais, Cultura de Inovação e Crescimento com IA
Se os keynotes me fizeram olhar para o futuro e imaginar o que é possível, os painéis empresariais me mostraram quem já está fazendo acontecer. Aqui a conversa sai do palco inspirador e entra na realidade de quem está tentando mover estruturas pesadas dentro de grandes organizações.

No painel “Por que a Transformação em Escala é tão Difícil e o que Pode Ajudar?”, ouvi experiências de quem vive o desafio de transformar cultura em empresas como PagBank e Unicred. A mensagem foi clara: a maior barreira não é a tecnologia – é a cultura organizacional. E a cultura só muda com incentivo certo, alinhamento estratégico e… dados.
Falou-se bastante sobre IA como aliada nessa mudança. Agentes digitais estão sendo usados para avaliar métricas, identificar gargalos e até apoiar a gestão da mudança. Aqui, IA não é buzzword – é ferramenta de diagnóstico e alavanca de transformação. Fiquei com a sensação de que as empresas que mais vão se beneficiar da IA são justamente aquelas que sabem onde não colocá-la.
No painel “Agentic AI – Os Superpoderes das Pessoas Digitais”, a conversa foi ainda mais direta: os agentes digitais não estão mais em beta. Eles já atuam no atendimento, no suporte, na análise de dados e até em partes do processo criativo. Em alguns casos, chegam a fazer melhor que humanos. Isso soa assustador à primeira vista, mas se você parar para pensar, é libertador.
Pessoas digitais (ou agentes) não vieram para competir com a gente. Vieram para somar. E quanto antes entendermos isso, mais preparados estaremos para criar uma relação de colaboração produtiva. Exatamente como um copiloto faz num avião: você continua no comando, mas agora com uma inteligência focada, rápida e sempre disponível te ajudando a decidir.
Nos painéis seguintes, como “Do Insight à Ação: IA no Centro da Estratégia de Crescimento”, ficou claro que as empresas que mais crescem não são necessariamente as que têm mais dados, mas sim as que sabem o que fazer com eles. IA, nesse cenário, vira uma interface entre o caos dos dados não estruturados e as decisões estratégicas. Mas, como alertaram os executivos, sem uma boa curadoria dos dados e sem um time treinado para interpretar e aplicar esses insights… IA é só barulho.
Outro ponto que me chamou atenção: a repetição da palavra “especialização”. As empresas estão buscando não apenas grandes modelos de IA generalistas, mas agentes especializados – que entendem de marketing, jurídico, vendas, compliance. A era do “one-size-fits-all” da IA está ficando para trás. O futuro parece ser feito de um ecossistema de inteligências digitais, cada uma com seu papel.
Particularmente, acredito bastante que este será o foco de IA, seu uso prático com agentes especialistas em uma tarefa única, porém com a capacidade de conversarem entre si, e distribuir uma grande tarefa para um exercito de especialistas incansáveis.
Esses painéis me deixaram com uma certeza: a colaboração com a IA não é opcional. Ela já está acontecendo. A dúvida que fica é: vamos resistir até o último momento ou vamos aprender a dançar com as máquinas?
Conclusão – Dançar com as Máquinas, porém num balé gracioso
Depois de dois dias intensos entre painéis, keynotes e conversas nos corredores, uma coisa ficou clara: o futuro do trabalho não é sobre humanos ou máquinas. É sobre humanos com máquinas. É sobre aprendermos a tirar o melhor de nós mesmos com a ajuda de inteligências que já estão entre nós – mesmo que ainda chamemos de “assistente virtual”, “copilot”, “bot”, ou “LLM” (sim, como essa que está me ajudando a escrever esse post).
A grande virada que o Agile Trends me trouxe foi essa: não basta saber que a IA está aí. É preciso saber trabalhar com ela. Saber usá-la para automatizar o que cansa e amplificar o que nos move. Saber onde ela entra, mas principalmente onde nós ainda somos insubstituíveis. Precisamos usar a tecnologia para fazer o que ela faz de melhor: liberar nosso tempo para o que realmente importa.
Volto do Agile Trends com a cabeça fervendo, o caderno cheio de anotações e uma certeza no coração: não vejo a hora da próxima edição. E mais do que isso: espero voltar agora não só como ouvinte, mas com a BNP Soluções fazendo parte da programação. Trazendo nossas experiências, aprendizados e provocações para a comunidade ágil. Porque o futuro é feito de quem tem coragem de compartilhar, errar, aprender e, claro… dançar com as máquinas. 💃🏻🤖
Quero deixar como agradecimento nessa série de posts a Karine Faleiro e a Bianca Dezorzi que me fizeram companhia maravilhosa no Agile Trends e a todo time de agilidade da BNP ❤️
Bem, é isso e com isso concluímos essa série de posts, um abraço e até a próxima

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