Quero iniciar esse texto descrevendo o que significa engenharia. Engenharia é a área de atuação que se dedica a oferecer soluções práticas para problemas concretos.
Na engenharia, costumamos nadar contra a maré das complexidades, sempre à procura de soluções intrincadas para desafios formidáveis. No dia a dia com os devs vejo o orgulho e brilho no olhar de quando eles resolvem um problema complexo, usando algum algoritmo exótico ou cálculo matemático que todo mundo desconhece. Mas, e se a solução já estiver na nossa cara?
Este texto é para você, solucionador de problemas: seja você do suporte, da área comercial, um desenvolvedor, gestor de projetos, ou qualquer um que se dedique a desembaraçar os nós dos desafios diários.
Tendemos a dar valor exagerado a coisas complexas
Eu sei que parece fácil.
“É obvio que, se a solução estiver na minha cara, eu vou escolher o caminho mais simples”.
Porém, buscar a simplicidade vai contra nossa própria natureza humana.
Existe um conceito psicológico que pode explicar por que as pessoas muitas vezes buscam soluções mais complexas para um problema, mesmo quando uma resposta mais simples poderia ser suficiente. Esse fenômeno é parcialmente explicado pela lei de Parkinson da trivialidade, também conhecida como o efeito da bicicleta. Esse princípio sugere que as pessoas tendem a dar desproporcional atenção aos problemas simples ou triviais que entendem, em vez de abordar as questões mais complexas e importantes que são mais difíceis de analisar.
Outro princípio relevante é o viés de sofisticação ou complexidade, onde se assume que soluções mais complexas são mais valiosas ou eficazes do que soluções mais simples. Esse viés pode ser intensificado em contextos técnicos ou profissionais, onde a complexidade, às vezes, é vista como uma prova de competência técnica ou intelectual. É bom demais ser reconhecido como inteligente do grupo, mas isso é uma armadilha!
Além disso, a aversão à simplicidade e o viés de confirmação também jogam um papel importante. Pessoas podem evitar soluções simples porque elas parecem ser “fáceis demais” para serem verdadeiras ou eficazes, ou podem escolher soluções que confirmem suas próprias suposições sobre a natureza do problema, mesmo que essas soluções sejam mais complexas e menos eficientes.
Exemplos de simplicidade na resolução de problemas
Por mais contraditório que pareça, encontrar soluções simples precisam de maior concentração e de um leque de conhecimento mais vasto. Sei que na correria do dia a dia é complicado abstrair o problema e tentar analisá-lo friamente. Muitas vezes nos perdemos em emaranhados de complexidade.
Mas, e se parássemos por um momento para questionar essa tendência? Em várias situações, uma abordagem mais direta e descomplicada não apenas resolve o problema, como também nos poupa tempo e recursos.
O Enigma das Duas Portas
No filme “Labirinto” (1986). Para vencer o labirinto o monarca que o comanda apresenta a Sarah um enigma. O problema apresentado é um clássico problema lógico chamado “Knights and Knaves”.
No enigma, ela se depara com duas portas, uma leva à liberdade e a outra à perdição. Guardando cada porta, há um guarda. Um deles sempre diz a verdade, e o outro sempre mente. Você não sabe qual porta é a segura, nem qual guarda é o verdadeiro ou o mentiroso. Para descobrir o caminho correto, você tem permissão para fazer apenas uma única pergunta a um dos guardas. A pergunta que resolve o enigma é: “Se eu perguntasse ao outro guarda qual porta leva à liberdade, o que ele diria?” Essa questão faz com que ambos os guardas apontem para a porta da perdição, revelando, assim, o caminho seguro pela porta oposta.
Agora se você não conhece sobre RPG, me permita mostrar como um bárbaro resolve o problema.
O Dia do Médico
Tenho um filho em idade escolar. A escola dele é maravilhosa e fica incentivando conhecer o mundo ao redor. Certo dia, a escolinha pediu para que nós, os pais, mandássemos um brinquedo relacionado aos médicos, mas aí que vem a questão. Meu filho não tinha nenhum brinquedo de médico.
Desistimos de tentar resolver o problema e deixamos que ele escolhesse o brinquedo favorito dele para levar na escola. Um fusca azul.
A escola oferece um serviço de câmeras para que possamos acompanhar as atividades remotamente. Por curiosidade, demos uma olhada nas câmeras e então…
A escola resolveu da forma mais simples e genial possível. Colaram uma cruz vermelha no fusca e chamaram de ambulância 🤣
O Desafio da Simplicidade
À medida que avançamos em nossos projetos e desafios diários, é fácil sermos seduzidos pela complexidade. No entanto, como vimos através dos exemplos e reflexões neste post, adotar a simplicidade não apenas nos poupa tempo e recursos, mas muitas vezes leva a soluções mais elegantes e eficazes.
Portanto, da próxima vez que você se encontrar diante de um problema, faça a si mesmo esta pergunta: “Será que essa é a solução mais simples que podemos adotar?” Desafie-se a olhar além das complicações iniciais e a reconsiderar o que realmente é necessário para resolver o problema.
Não à toa que simplicidade é um dos pilares da BNP. A simplicidade não é apenas um princípio de design; é uma filosofia de vida que todos nós podemos abraçar.
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