Profissional em T – Como decidir entre ser especialista ou generalista

A primeira vez que tive contato com o termo, foi consumindo os materiais da Alura onde segundo Paulo Silveira o dev em T é o profissional que busca conhecimento além da sua área de especialização, que conhece profundamente sobre um tema técnico e, ao longo da carreira, navega entre temas próximos do time, para entender melhor a atuação dos seus colegas e ampliar seu repertório pessoal.

Particularmente, não dei muita importância na época que conheci o termo. Para mim, faz sentido uma escola inventar um termo qualquer para promover seu método de estudo, portanto não dei muita bola acreditando ser apenas marketing. 🤦🏻‍♂️

E gente 😂 como eu estava errado!

O que não é o profissional em T

Definitivamente não é quando você buga no joguinho.

Também não é o profissional generalista.

Normalmente encontrado em áreas relacionadas ao design. O generalista é o famoso “faz-tudo”. O profissional que se envolve em todas as etapas do problema e tenta resolver da melhor forma que ele consegue, mesmo sem ser especialista em nenhuma das áreas.

Falando em desenvolvimento, temos o full-stack. Alguém capaz de desenvolver uma solução “””completa””” (pode colocar várias aspas aí) sozinho. Front-end, back-end, site, aplicação mobile etc. sem a necessidade de especialistas para trabalhar em cada particularidade da solução.

Também não é o profissional especialista (em apenas uma disciplina)

Sabe o Gerson? É o Gerson, aquele programador que toda empresa tem! É um programador exímio, conhece tudo que existe sobre a linguagem que trabalha, excedeu a senioridade em diversos níveis de excelência. Porém é temido pelos colegas.

O Gerson pode se enquadrar como profissional em I. Tem conhecimento profundo sobre a área que atua, e foca quase que exclusivamente o aprendizado na sua área de conhecimento.

Ok, mas então o que seria esse T?

O termo foi popularizado na California para descrever profissionais de design com um perfil multidisciplinar, aptos para transitar entre diversos campos de conhecimento.

O T representa como as habilidades desse profissional são organizadas.

No eixo vertical temos conhecimentos técnicos específicos, diretamente relacionado com a sua especialidade. Eu por exemplo sou um desenvolvedor de formação, ou seja, meu eixo de especialidade se enquadra desenvolvimento pesado.

  • linguagens de programação C#, Java, Javascript, typescript, Rust
  • Ferramentas de versionamento GIT, VSTS, SVN
  • Boas práticas de desenvolvimento TDD, SOLID, CLEAN, KISS, DRY, YAGNI, OOP, FP
  • Design patterns MVC, MVVM

No eixo horizontal temos habilidades generalistas, que (aparentemente) não tem relação com nossa especialidade técnica. Me usando novamente como exemplo, aqui alguma das habilidades não relacionadas à minha especialidade que aprendi.

  • Comunicação e conversação
  • Scrum, Kanban, Agile
  • Design thinking
  • Interface e experiencia de usuário
  • Resolução de conflitos
  • Gestão de pessoas
  • Desenvolvimento pessoal e inteligência emocional
  • Infraestrutura e arquitetura de software
  • Big-Data e treinamento de modelos de IA
  • Fonoaudiologia e gestão de saúde talvez? 😂

A proposta do profissional em T é não apenas focar em aprofundar suas habilidades técnicas, mas também ter a curiosidade de entender outras áreas de conhecimento. Buscar conhecer o máximo possivel do maior número de assuntos.

Motivações para se tornar um “profissional em T”

Os problemas são multidisciplinares

A educação padrão, nos ensina que cada matéria atua na sua própria “caixinha”. Por exemplo, tendemos a acreditar que português é algo totalmente diferente de matemática. Então eu te apresento “música”, uma forma de escrita em padrões numéricos. Ou que tal haicai, uma forma de poesia com estritamente:

3 versos sendo que
1º e 3º com versos de 5 silabas e
2º verso com 7 silabas.

Estão me acompanhando?

Trazendo mais próximo dos nossos problemas cotidianos. Fechar uma negociação, por exemplo.

Envolve matemática. Saber montar uma proposta vantajosa, calcular se vale a pena ceder um desconto, calcular o tempo investido em uma negociação.

Envolve comunicação. Saber apresentar corretamente as soluções, saber ouvir e interpretar corretamente as necessidades do possível cliente.

Envolve conhecimentos técnicos específicos. Além das habilidades comuns, ainda é necessário “falar a mesma língua do cliente”.

Especialista vs. Generalista

Cada um pode se destacar em uma parte. O generalista pode colocar a solução no ar, apagar os incêndios, quebrar aquele galho pontual, porém ele não tem profundidade suficiente para entender a raiz do problema e comumente cria soluções que “quebram” com facilidade. O Especialista por sua vez resolve muito bem os problemas dentro da sua área de atuação, porém se recusa ou não consegue, resolver problemas de áreas próximas e tem dificuldade para entender outras áreas da empresa.

O mercado atual pede uma mistura desses dois estilos de profissional. Independente da escolha entre se especializar ou saber um pouco de tudo, o cenário atual requer habilidades para lidar com pessoas em situações diversas.

O que eu proponho é, seja ambos. Conheça profundamente sobre sua área de atuação, mas seja flexível e aos poucos, aprenda sobre o que seus colegas fazem, como eles resolvem problemas, aceite desafios fora da zona de conforto e se proponha a entender um problema “por completo”.

Quais as vantagens de ser um profissional em T

A primeira vantagem é a autonomia. O conhecimento generalista te ajuda a resolver problemas sem depender da agenda livre daquele seu colega que nunca tem tempo para te ajudar.

Dois exemplos que me surpreenderam durante a carreira.


Temos hospedado na BNP um app em PHP, gerenciado pela infra. Em um determinado dia, nosso cliente solicitou uma alteração simples, porém que necessitava de uma edição no PHP do app. Me surpreendi quando vi o Jackson (Arquiteto de Soluções) abrindo o PHP e fazendo a edição. 😂

Uma vez, precisei falar com a responsável pelas relações com cliente de uma empresa de pesquisa que trabalhei. Quando cheguei na mesa dela, ela estava com SQL aberto para fazer algumas consultas para esse mesmo cliente. Perguntei por que ela aprendeu SQL, e ela me disse:

“É mais fácil buscar a informação direto no banco de dados do que ficar pedindo para vocês do desenvolvimento uma consulta diferente a cada 10 minutos.“ 🤯

A Segunda vantagem é adaptabilidade. Quando sua gama de conhecimento é ampla, você consegue se adaptar mais rapidamente a mudanças e transformações do mercado de trabalho. O profissional em T consegue fácil adaptação a problemas adversos e busca pela quebra do comodismo.

A terceira é uma maior capacidade de colaboração. Ter conhecimentos em diversas áreas, mesmo atuando com especialista, te dá maior “munição” para pensar em soluções com colegas de áreas diferentes. Além da capacidade de compreensão de outros pontos que possam surgir do trabalho conjunto, também pode ter mais facilidade em ser criativo, já que você pode ver além do seu escopo técnico.

Esse assunto ainda está no meu eixo horizontal, esse ano quero ler o livro “Range – Por que os generalistas vencem em um mundo de especialistas”, do David Epstein e recomendo fortemente que você veja também 😀

Espero ter ajudado a esclarecer um pouco esse conceito de profissional e deixo aqui meu abraço.

Sobre Filipe Borges 10 Artigos
Coordenador do time de desenvolvimento na BNP Soluções em TI. Ex-treinador de overwatch. Viciado em resolução de problemas. Sommelier de café não-oficial e pai do Heitor

1 Comentário

  1. Estou procurando o livro RANGE agora, inclusive se puder emprestar, estou na fila! Maravilhoso texto, que sejamos cada vez mais profissionais com T(zão).

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*